terça-feira, 29 de março de 2011

Aula 04 - Modelos orthodoxos do PDP


Extrato do capítulo 02 de:


2.2 Modelo Proposto por Rozenfeld (et al., 2006)

O modelo proposto por Rozenfeld (et al., 2006), desenvolvido de forma colaborativa entre diversos pesquisadores da área das Engenharias – principalmente de Produção – é dividido em três macro-fases, descritas a seguir:

a) pré-desenvolvimento – onde devem ser definidos o portfólio de produtos e projetos, e, de acordo com a estratégia da empresa, os objetivos de cada projeto. Esta macro-fase divide-se em Planejamento Estratégico do Produto e Planejamento do Projeto;

b) desenvolvimento – esta macro-fase envolve o processo de detalhamento e produção do produto. Divide-se em Projeto Informacional, Projeto Conceitual, Projeto Detalhado, Preparação da Produção e Lançamento do produto; e,

c) pós-desenvolvimento – consiste, de forma geral, num monitoramento do produto até o fim do seu ciclo de vida. Dividindo-se em Acompanhar o Produto e Processo e Descontinuar o Produto.

Neste trabalho, como apontado no Capítulo 1, será dado foco nas macro-fases iniciais deste modelo de PDP, ou seja, o pré-desenvolvimento e o desenvolvimento, nas quais o designer tem usualmente papel mais ativo nas decisões e criações.

Portanto, a inserção de ferramentas do design sustentável, neste modelo, deve ser feita, principalmente, até a fase do Projeto Detalhado. A partir da fase de Preparação da Produção, mudanças são mais complexas e de maior custo (ECOLIFE NETWORK, 2002).

No pré-desenvolvimento, o objetivo do Planejamento Estratégico do Produto é a definição de um portfólio de produtos para a empresa, ou seja, descrever uma linha de produtos e os projetos a serem desenvolvidos. No que diz respeito aos produtos, para os que já estão no mercado deve-se montar um plano de retirada; e, para os produtos que serão desenvolvidos, deve conter uma primeira descrição de características e metas (ROZENFELD et al., 2006).

Nesta fase de Planejamento do Projeto deve resultar um “Plano do Projeto”. Este, por sua vez, deve conter o escopo do projeto e do produto, orçamento, prazos, definição do pessoal, recursos, procedimentos de avaliação, análises de risco e indicadores de desempenho do projeto e produto (ROZENFELD et al., 2006).

A macro-fase de desenvolvimento inicia-se com o Projeto Informacional, do qual devem resultar as especificações-meta do produto, que orientam a geração de soluções e fornecem uma base para elaboração de critérios de avaliação e tomadas de decisão. A fase seguinte trata do Projeto Conceitual, o qual objetiva a busca, criação, representação e seleção de soluções para o problema de projeto (ROZENFELD et al., 2006).

No Projeto Detalhado, são realizadas todas as especificações e detalhamentos, os protótipos são testados resultando no detalhamento de todos os recursos, manuais de uso, instruções de assistência, além de suporte aos vendedores. Finalmente, na Preparação da Produção é produzido um lote de produção piloto, permitindo que o processo produtivo seja mapeado e melhor definido. Por fim, ocorre o Lançamento do Produto, em paralelo com a fase descrita anteriormente, mapeando processos de assistência técnica e auxílio ao consumidor (ROZENFELD et al., 2006).

Nas duas primeiras fases do desenvolvimento – neste modelo de PDP –, percebe-se um papel mais ativo do designer. Ele é o responsável por dar forma (através de um produto ou serviço) às necessidades da indústria e da sociedade – do usuário –, unindo requisitos estéticos, tecnológicos e de marketing transformando-os em produtos, sistemas ou serviços (BHAMRA & LOFTHOUSE, 2007; ICSID, 2009).

2.3 Outros Modelos de Referência para o PDP

Nas seções a seguir, outros modelos serão discutidos, para que possam ser observados os aspectos comuns entre os mesmos. Estes apresentam uma estrutura simplificada e, desta forma, podem indicar fases mais críticas no que diz respeito ao papel do designer e à inserção das ferramentas do design sustentável.

2.3.1 Modelo Proposto por Baxter (2000)

O modelo de Baxter (2000), que confere maior ênfases às etapas correspondentes ao pré-desenvolvimento e desenvolvimento descritas por Rozenfeld (et al., 2006). Para o autor, o processo divide-se em cinco fases básicas, compreendendo:

a) Oportunidade de negócio e especificações do projeto – nas quais são analisados o mercado e o potencial consumidor no intuito de identificar um ponto de inserção e possíveis características do produto;

b) Projeto conceitual – fase de geração de conceitos;

c) Projeto de configuração – fase em que os conceitos são trabalhados, gerando-se alternativas;

d) Projeto detalhado e projeto de fabricação – nestas fases o produto é especificado, são feitos maiores detalhamentos e sua fabricação.

Percebe-se uma proposição mais simplificada, em relação à proposta de Rozenfeld (et al., 2006). As 5 etapas apresentadas por Baxter (2000), correspondem às 2 primeiras macro-fases daquele, não compreendendo a macro-fase de pós-desenvolvimento.

2.3.2 Modelo Proposto por Pereira (2003)

Seguindo uma proposta de modelo para o desenvolvimento de produtos sustentáveis, Pereira (2003), divide o PDP em três fases:

a) Etapas preliminares: na qual são definidas as necessidades e o problema a ser respondido, é feita uma pesquisa de produtos existentes, resultando no planejamento do projeto. Ao final desta etapa, a autora propõe a inserção de uma abordagem ecológica na pesquisa, utilizando, inclusive, a manufatura inversa (desmontagem, remanufatura em pequenos ciclos de reciclagem);

b) Etapas de abstração: são feitas a análise funcional, definição de prescrições, o projeto preliminar e a confrontação de limitações. Seguindo a abordagem para sustentabilidade a autora propõe a utilização de cheklists para verificar se o produto possui uma adequação ecológica e para identificar pontos que necessitam de um re-design;

c) Etapas de aplicação: na qual são realizadas a escolha da solução, detalhamento do projeto, planejamento da produção e a entrega ao cliente. Nesta fase a autora propõe o uso de uma Análise do Ciclo de Vida, como forma de validação ecológica do produto e dos materiais.

A autora evidencia, ainda, a necessidade de executar uma pesquisa permanente de materiais, constante durante todo o desenvolvimento. Pode-se, a esta pesquisa, acrescentar uma busca por produtos similares e novos processos e tecnologias.

2.3.3 Modelo Proposto por Varžinskas (2007)

Varžinskas (et al., 2007) propõe um PDP adaptado ao design sustentável, já inserindo, nas ações de cada fase, propostas de adequação ambiental, dividindo-o em três fases:

a) Escopo e avaliação ambiental: na qual são definidos os objetivos do projeto e são feitas uma pesquisa e análise quanto à adequação ambiental do produto. Esta análise, segundo o autor, pode ser feita através de resultados quantitativos ou qualitativos. Ao final desta fase são obtidos os objetivos e tarefas específicos da fase seguinte;

b) Conceito e segunda avaliação: são realizadas a geração de i

déias e priorização de ações, desenvolvendo, assim, um conceito; este, então, é avaliado ambientalmente, definindo um novo produto;

c) Prototipagem e avaliação do projeto: são definidas as especificações do produto e feitos testes com um protótipo, passando-se então para o desenvolvimento do produto final, que é novamente avaliado ambientalmente após a produção e, desta forma, são obtidas recomendações para novos produtos.

Percebe-se, como na proposta de Pereira (2003), um menor número de etapas propostas, e, como na proposta de Baxter (2000), a não contemplação da macro-fase de pós-desenvolvimento.

2.3.4 Modelo Proposto por Charter e Tischner (2001)

Charter e Tischner (2001) dividem sua proposta de modelo de PDP – com foco na sustentabilidade – em seis fases:

a) Definição de objetivos e escopo: deve ser realizada uma pesquisa de produtos existentes. Os autores propõem a utilização de um checklist ambiental para descobrir as fraquezas – oportunidades;

b) Desenvolvimento de alternativas: utilizando os requisitos gerados na fase anterior, são desenvolvidas as primeiras idéias, a través de seções de brainstorming. Os autores propõem a utilização de matrizes de decisão para definir as prioridades de melhoria, segundo requisitos ambientais, custo, aplicabilidade técnica e benefícios ao consumidor. São definidas as possibilidades de materiais, tecnologias, processos e estética, além do cronograma;

c) Pesquisa e compilação de dados ambientais: de acordo com as propostas anteriores, os especialistas de cada área são responsáveis por elaborar uma pesquisa de dados ambientais para cada requisito. Por exemplo, no caso dos materiais, quais possibilitam a reciclagem, ou aumentam a longevidade do produto (caso seja essa a necessidade);

d) Detalhamento: as informações coletadas anteriormente circulam entre os membros da equipe de desenvolvimento para o detalhamento dos dados. Para isso, os autores preconizam a utilização de uma checklist ambiental, priorizando ações e materiais;

e) Avaliação final: após o detalhamento, a equipe utiliza um diagrama de teia de aranha para comparar o novo produto com os já existentes, de acordo com as prioridades definidas;

f) Produção e lançamento no mercado: um protótipo é desenvolvido e testado e ajustes finais são realizados. Desta forma o produto é, então, lançado no mercado.

Percebe-se uma maior divisão de etapas em relação aos modelos de Pereira (2003) e Varžinskas (et al., 2007). Entretanto, algumas destas etapas são contínuas (realizadas durante todo o processo) e/ou são realizadas ao mesmo tempo – no que diz respeito à sua correspondência com o modelo de Rozenfeld (et al., 2006).

2.3.5 Modelo proposto por CRUL e DIEHL (2006)

O modelo desenvolvido por Crul e Diehl (2006), propõe dez fases para o desenvolvimento de um produto sustentável.

a) Criação da equipe e planejamento do projeto: devem reunir todos os possíveis membros do projeto, de diferentes áreas e pertencentes, ou não, à empresa;

b) Desenvolvimento de uma análise SWOT[1] e definição dos objetivos: tendo como base uma análise SWOT, são definidos os objetivos para o projeto, tendo como base o design sustentável;

c) Seleção do produto: deve ser feita baseada nos resultados do passo anterior, com foco na sustentabilidade;

d) Definição de requisitos sustentáveis para o produto: determinar, dentro das possibilidades e do produto selecionado, quais requisitos do design sustentável serão aplicados;

e) Análise de impactos: nesta fase devem ser analisados o ciclo de vida do produto e os conseqüentes impactos que terão ação priorizada. Nesta fase os autores indicam a utilização de matrizes de análise;

f) Desenvolvimento da estratégia e do briefing com foco no design sustentável. Os autores orientam o uso de ferramentas de estratégia;

g) Geração e seleção de idéias;

h) Desenvolvimento dos conceitos: as idéias geradas anteriormente são mais bem detalhadas e exploradas;

i) Avaliação sob a visão do design sustentável: é feita uma análise quanto às melhorias obtidas com o novo produto;

j) Implementação e acompanhamento: envolve a prototipagem, teste, planejamento

da produção e testes de mercado; além de monitorar o desempenho do produto em uso.

Assim como no modelo proposto por Charter e Tischner (2001), há diversas fases realizadas que compreendem à mesma etapa – relativo ao modelo de Rozenfeld (et al., 2006) – sendo, assim, realizadas num mesmo momento.

2.3.6 Discussão

Como pode ser visto, tanto Rozenfeld (et al., 2006) quanto Baxter (2000), trazem uma abordagem geral para o modelo de referência de desenvolvimento de produtos. Entretanto, percebe-se que o modelo proposto por Rozenfeld (et al., 2006) possui um nível maior de detalhamento das fases. Além disto, deve-se observar que existem autores que buscam propor modelos de referência com ênfase e ferramentas específicas da sustentabilidade.

Entre os modelos de PDP com foco na sustentabilidade, tem-se a proposta de PDP de Pereira (2003), que, como o proposto por Rozenfeld (et al., 2006), também é dividida em três partes. Entretanto, pode-se perceber a sobreposição de fases observando-se que a última fase da proposta de Pereira (2003) – “Etapas de Aplicação” – integra ações tanto do desenvolvimento –

escolha da solução, detalhamento do projeto e planejamento da produção – quanto do pós-desenvolvimento – a entrega do produto –, da proposta de Rozenfeld (et al., 2006).

Varžinskas (et al., 2007), propõe um modelo de PDP que integra o design sustentável no processo de projeto. Contudo, não propõe métodos ou ferramentas específicos do design sustentável, como checklist constantes na proposta de Pereira (2003). Devido à simplificação e menor abrangência, a última fase corresponde a especificações e prototipagem, correspondendo ao final da macro-fase de desenvolvimento, da proposta de Rozenfeld (et al., 2006).

No modelo de Charter e Tischner (2001), percebe-se que sua fase inicial – Definição de objetivos e escopo – corresponde ao Pré-desenvolvimento e parte do Projeto Informacional da proposta de Rozenfeld (et al., 2006), além apresentar ações voltadas ao design sustentável, como a indicação de aplicação de checklists ambientais, da pesquisa de dados ambientais, buscando um menor

impacto do produto.

Na proposta desenvolvida por Crul e Diehl (2006), as dez fases se sobrepõe às da proposta de Rozenfeld (et al., 2006), além de possuir ações direcionadas ao design sustentável. Como pode ser visto na Figura 2, as três primeiras fases correspondem ao Pré-desenvolvimento.

Como pode ser visto, ainda, a proposta de Crul e Diehl (2006) estende-se ao acompanhamento do produto, diferenciando-se das anteriores – BAXTER, 2000; PEREIRA, 2003; VARŽINSKAS, ET AL., 2007; CHARTER E TISCHNER, 2001 –, que consideram seu modelo do PDP como encerrando na macro-fase de Desenvolvimento.

Para facilitar a visualização das semelhanças e diferenças em relação aos modelos coletados, foi desenvolvido um esquema gráfico.

Neste esquema as etapas de cada proposta são dispostas graficamente uma abaixo da outra, e nesta disposição as fases correspondentes são sobrepostas tendo o início dos processos na extremidade esquerda. Ou seja, no caminhos que se seguem da esquerda para a direita as etapas correspondentes estão posicionadas na mesma distância. Os modelos que apresentam fases com fundo branco são aqueles que possuem, inseridos em sua estrutura, ferramentas ou atividades direcionadas ao design sustentável.

Desta forma, percebe-se que a proposta de Rozenfeld (et al., 2006) possui uma abrangência maior no que diz respeito às fases do PDP, enquanto Baxter (2000) possui uma abordagem mais direcionada às fases de pré-desenvolvimento e desenvolvimento, relativas às fases de coleta de dados e criação, apesar de apresentarem um nível de detalhamento diferente.

Pereira (2003), Varžinskas (et al., 2007), Charter e Tischner (2001) propõe modelos que correspondem às fases estratégicas e de coleta de dados ao lançamento do produto. A principal diferença entre três modelos, em particular, e os dois anteriores – Rozenfeld (et al., 2006) e Baxter (2000) – é o uso de ferramentas específicas do design sustentável. Além disto, como proposto por Varžinskas (et al., 2007) e Crul e Diehl (2006), a própria forma de abordagem das etapas deve sempre ser feita sob uma visão da sustentabilidade.

Com a observação destes diferentes modelos de referência, com foco na sustentabilidade, percebe-se que, segundo estas propostas, as principais ferramentas do design sustentável propostas são relativas à priorização de ação e avaliação.

Pode-se observar, pelos modelos propostos específicos do design sustentável, que sua diferenciação se faz principalmente pelo uso de ferramentas em fases específicas e pela pesquisa de materiais de menor impacto. Desta forma, percebe-se que existe a possibilidade de direcionar um modelo de referência genérico a um processo com menor impacto ambiental. Não havendo necessidade de desenvolvimento de modelos específicos, mas sim a possibilidade de desenvolver uma abordagem sustentável através inserção de ferramentas do design sustentável.

Após a análise destes modelos de referência, levantados na literatura, com o intuito de facilitar e uniformizar a linguagem, neste trabalho será tomado como referência o modelo proposto por Rozenfeld (et al., 2006) por possuir uma estrutura bastante detalhada e adaptável a necessidades específicas. Como proposto pelos autores, este modelo pode/deve, ainda, ser modificado e/ou adaptado às necessidades de cada projeto.


[1] A análise SWOT, busca identificar Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats) (ANTÓNIO, 2002)

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