sexta-feira, 29 de abril de 2011

Aula 08 - DS aplicado a Serviços - Otimização do Ciclo de Vida

Serviços podem contribuir para otimizar a necessidade da utilização de recursos materiais para atender uma dada unidade de satisfação (nível 1 e 2 da figura ao lado). A otimização pode ser direcionada para a própria operação de um serviços ou uma rede de serviços. Tal otimização pode-se dar, por exemplo, através do compartilhamento de processos (fluxos de informações/materiais) e operações (fluxo de informações/equipamentos). Serviços correlatos realizados por diferentes atores podem nesta estratégia reduzir o volume de energia e recursos materiais necessários para obter (ou mesmo ampliar) a satisfação do usuário.

A otimização da vida útil de produtos através de serviços pode ser obtida através do maior compartilhamento de produtos (nível 2) ou através de serviços que resultem na extensão de sua vida útil dos produtos (nível 1). Reduz-se, desta forma, a necessidade de exploração dos recursos naturais decorrente da produção de novos bens. No projeto de um dado produto esta otimização pode ser obtida através:

· Serviços de suporte para obter-se maior fexibilidade e adaptabilidade do produto ao longo do ciclo de vida: serviços que resultem em maior flexibilidade funcional do produto, incluindo sua capacidade de se adequar a novas necessidades ao longo do ciclo de vida;

· Serviços de ampliação do ciclo de vida do produto: serviços que permitam estender a vida útil do produto, mantendo a satisfação do usuário sem que haja a necessidade de produção de um novo bem. No exemplo da figura ao lado (disponível na base Eco-Cathedra) a empresa oferece um serviço "carpet" ao invés de vender o carpet. O produto foi desenhado de forma modular, de forma a permitir a fácil manutenção e reposição das partes danificadas, sem que haja a necessidade de substituição de toda uma superfície de carpet.

A necessidade de otimização do ciclo de vida de produtos através de serviços decorre da constatação que é cada vez mais comum adquirimos mais produtos do que efetivamente consumimos. Note-se que este fenômeno já não é um atributo de classes de renda mais alta. Na verdade o barateamento dos custos de produção tem propiciado o acesso das pessoas com renda baixa a produtos de consumo antes impensáveis.

Uma métrica da baixa intensidade de uso dos bens materiais é facilmente observada, particularmente no meio urbano, com o tempo ocioso destes bens em relação à sua expectativa de vida útil. Por exemplo, não é difícil encontrar uma bicicleta, que teria ao redor de 20 anos de ciclo de vida (175200 horas), sendo utilizada por um dado usuário apenas duas ou três horas ao mês. Mantendo-se o mesmo ritmo de uso a bicicleta seria utilizada apenas 720 horas ao longo de todo seu ciclo de vida, ou seja, 0,4% de sua vida útil. Ao mesmo tempo a necessidade por mobilidade através da bicicleta muito provavelmente ocorre junto a outras pessoas na mesma região deste mesmo usuário, implicando na aquisição novas bicicletas. Esta situação é inconsistente com o grave problema ambiental que vivemos.

Outro problema associado à otimização do ciclo de vida de produtos e onde os serviços podem fazer uma contribuição efetiva é o descarte prematuro de produtos, incluindo aquele decorrente da obsolescência estética. A obsolescência prematura de produtos é um fenômeno recente na história humana e isto paradoxalmente ocorre em um período onde os produtos têm alcançado níveis de durabilidade e confiabilidade sem precedentes. Os fatores que explicam este fenômeno são diversos mas é possível apontar o barateamento dos custos diretos de produção; as mudanças culturais e demográficas de nossa sociedade que tem levado à utilização do consumo como estratégia de redução de stress; a maior intensidade de estímulos ao consumo em decorrência dos meios de comunicação em massa; a emergência de novas aspirações do indivíduo em decorrência do aumento dos níveis de educação da sociedade, etc. Assim, serviços podem contribuir para reduzir a obsolescência estética e tecnológica de produtos.

O maior impacto na otimização do uso dos bens materiais ou do provimento de serviços ocorre quando a atuação do designer se dá já na concepção do sistema de uso e produção. Contudo, mesmo a atuação restrita ao design de produtos já oferece um grande potencial de contribuição do designer para a causa ambiental. Apresenta-se a seguir critérios gerais para a concepção de serviços orientados à otimização do ciclo de vida de produtos:

Quadro 1 – Critérios para a Avaliação de Serviços sob Ótica da Otimização do Ciclo de Vida

QUESTÃO

SIM

NÃO

NÃO SE APLICA

O serviços contribuir para a atualização e a adaptabilidade dos produtos?

O serviços contribui para a manutenção do produto ou suas partes?

O serviço contribui para a reparação e a reutilização do produto ou suas partes?

O serviço contribui para a remodelação do produto?

O serviço contribui para a intensificação do uso?

A vida útil dos componentes correspondente à duração prevista para o serviço de substituição?

Foi realizado a escolha de materiais duráveis considerando seu uso e a vida útil do produto?

Os produtos evitam materiais permanentes para funções temporárias?

Os produtos associados aos serviços minimizam o número de partes e componentes?

Os produtos tem baixa complexidade para atuação dos serviços?

Os produtos associados ao serviço evita junções frágeis?

O serviço pode ser feito de forma remota?

O serviço é modular e permite adaptação em relação à evolução física e cultural dos usuários?

O serviço de atualização pode ser realizado no próprio lugar de uso do produto?

O produto têm instrumentos e referências para facilitar os serviços de atualização e adaptação?

Para muitos a busca pela otimização do ciclo de vida de um produto ou serviço pode ser entendida como contrária à própria profissão do Designer. O argumento neste paradigma tradicional é que o menor volume de consumo levaria a uma menor demanda por profissionais da área. Acontece que, como reconhece o próprio ICSID, o design neste novo paradigma direciona sua criatividade para o estabelecimento de novas relações entre atores, para a criação de soluções inovadoras que viabilizem o compartilhamento de produtos, para o design de serviços mais eco-eficientes, entre outras. Estas novas competências demandam algo que é central à atividade do Design: criatividade.

O desafio para o design é, portanto, desenvolver produtos, serviços ou sistemas inteiros que possibilitem a satisfação das pessoas sem que isto implique em aumento da taxa de utilização dos recursos naturais que observamos atualmente. Seguindo o princípio desta seção, uma das estratégias para sua implementação são as soluções que estimulam e viabilizam as pessoas os compartilharem dos recursos. Portanto, tendo em vista o caráter individualista que se desenvolveu em nossa sociedade fica claro que este não é um desafio fácil. A otimização da vida de produtos e serviços necessariamente tem que resultar na percepção de melhoria da qualidade de vida das pessoas em relação às soluções anteriores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário