sábado, 30 de abril de 2011

Aula 08 - DS aplicado a Serviços - Minimização dos Recursos

Os níveis crescentes de consumo de recursos per capita demandam do Designer a reflexão sobre soluções que revertam este crescimento porém sem reduzir a satisfação das pessoas. Minimizar os recursos presentes em produtos e serviços é uma das estratégias centrais para alcançar este objetivo. Não se trata apenas da minimização de recursos no produto/serviços na fase de uso mas sim em todo o ciclo de vida, incluindo a minimização de perdas/refugos na produção, redução da energia necessária para a produção e operação do produto, redução ou eliminação das embalagens utilizadas e minimização do transporte requerido.

A minimização de recursos em um produto ou serviço pode ser obtida pela fusão de elementos que convencionalmente estariam separados. O serviço de limpeza de um apartamento pode estar associado ao serviço de re-abastecimento de produtos de limpeza providos a granel (shampoo, sabão, etc).

Desenhar soluções adequadas para as exatas necessidades do usuário, eliminando excessos e itens desnecessários (vide exemplo ao lado - empresa Martoni - disponível na base de dados Eco-Cathedra), e ainda assim manter ou ampliar o valor dos produtos/serviços é um desafio complexo pois envolve muitas vezes a mudança de paradigmas culturais fortemente estabelecidos na sociedade. É preciso, por exemplo, reverter paradigmas da relação entre o tamanho e quantidade de recursos materiais associados a um dado serviço/produto e o status associado a estas opções.

Um aspecto em particular chama a atenção quando se trata da contribuição de serviços na minimização de recursos para o provimento de uma unidade de satisfação: o volume de embalagens que utilizamos na sociedade atual. O volume é via de regra excessivo e o design pode contribuir decisivamente para alterar este quadro. É preciso, por exemplo, alterar a percepção no consumidor ainda quando criança de que quanto maior a embalagem maior o carinho da pessoa que está presenteando!

Soluções orientadas à minimização dos recursos na fase de uso têm como desafio o fato de que muitas vezes demanda alteração no comportamento do consumidor, o que não necessariamente ocorre em situações reais. Soluções em design da informação ou intervenção nos atributos semióticos associados ao serviço/produto podem contribuir para influenciar esta mudança de comportamento.

Uma estratégias eficaz para reduzir consideravelmente o volume de recursos utilizados no provimento da satisfação das pessoas é a implementação de sistemas produto+serviço (PSS), conforme apresentado no início deste livro. O PSS pode ir desde o provimento de uma plataforma a partir da qual o usuário consegue ter suas necessidades atendidas até sistemas orientados a resultados finais ao usuário (full service). O impacto desta abordagem na minimização de recursos é significativo pois há maior compartilhamento de recursos entre consumidores e, eventualmente, a própria desmaterialização do consumo. No Brasil são raros os cursos de graduação que tratam desta temática e ainda mais raros os profissionais capacitados para o projeto de sistemas produto+serviço, muito embora no mundo real observe-se um número crescente de tais sistemas sendo implementados (embora nem sempre de forma eco-eficiente).

O quadro a seguir apresenta um check-list de critérios de projeto orientados à minimização dos recursos em produtos e serviços, tendo como base as propostas de Manzini & Vezzoli e os resultados dos estudos realizados no Núcleo de Design & Sustentabilidade.

Quadro 1 – Check-List the Critérios para a Minimização de Recursos (produtos)

CRITÉRIOS

SIM

NÃO

Não se Aplica

Os serviços possibilitam a redução dos insumos para a operação do produto?

O serviço oferece uma plataforma na qual a remuneração ocorre pela unidade de satisfação?

O serviço oferece um full service, focado nos resultados finais da unidade de satisfação?

O serviço instrumentaliza o uso coletivo do produto e sua infraestrutura?

São utilizados serviços especializados quando os mesmos podem resultar em uso mais ótimo dos recursos?

Há a desmaterialização do produto ou algumas de suas partes?

Há a digitalização do produto ou algumas de suas partes?

Foi implementado a miniaturização?

O produto evita dimensionamentos excessivos?

O produto minimiza os valores de espessura dos componentes?

Usa nervuras para enrijecer as estruturas?

Escolhe processos produtivos que minimizem o consumo de materiais?

Escolhe os processos produtivos com menor consumo energético

Utiliza instrumentos e aparelhagens produtivas eficientes

Utiliza o calor disperso por algum processo produtivo, para pré-aquecimento de fluxos de outros processos?

Utiliza sistemas de regulagem flexível da velocidade dos elementos de funcionamento de bombas/motores?

Utiliza sistemas de interruptores inteligentes das aparelhagens?

Os motores foram dimensionados de maneira otimizada?

Facilita a manutenção dos motores?

Foram definidos cuidadosamente os limites e tolerâncias?

Otimiza os volumes de compra dos lotes (estoques)?

Otimiza os sistemas de controle de estoque (inventário)?

Minimiza o consumo de materiais como papéis e embalagens?

Usa instrumentos computacionais para o projeto, modelagem e prototipagem?

Usa instrumentos computacionais para arquivamento, comunicação escrita e apresentações?

Evita excesso de embalagens?

Utiliza material somente onde for realmente útil?

Produtos compactos com alta densidade de transporte e de armazenagem?

Os produtos são concentrados?

A solução torna os produtos mais leves?

O produto é passível de ser utilizado coletivamente?

Busca a eficiência do consumo de recursos no funcionamento do produto?

O design permite eficiência de operações de manutenção?

Usa suportes digitais reconfiguráveis?

Utiliza sistemas com consumo variável de recursos para diferentes exigências de funcionamento?

Usa sensores para o ajuste dos consumos às exigências de funcionamento?

Incorpora nos produtos mecanismos programáveis para desligar automaticamente?

Faz com que o estado de default seja o de menor consumo possível?

Prevê sistemas com consumo passivo de recursos?

Adota sistemas de transformação de energia de alto rendimento ?

Usa motores com maior eficiência?

Projeta/adota sistemas de transmissão de energia de alta eficiência?

Utiliza materiais ou componentes técnicos de energia de alta eficiência?

Utiliza materiais ou componentes técnicos altamente isolados?

Projeta sistemas com isolamento ou distribuição precisa dos recursos?

Minimiza o peso dos produtos que devem ser movidos?

Projeta sistemas de recuperação de energia e de materiais?

Facilita o uso da economia de energias e de materiais?



A constatação de que a quantidade de recursos consumidos não tem uma relação com felicidade pode ser obtida através da análise dos Índices de Felicidade Interna Bruta (FIB) (uma alternativa inteligente ao PIB – Produto Interno Bruto). Via de regra esta análise mostra que após certo nível de renda o aumento da riqueza não conduz a um correspondente aumento da felicidade. Como resultado, países que apresentam elevado volume de consumo não necessariamente apresentam o nível mais elevado de felicidade (vide imagem ao lado). O Butão utiliza este indicador na administração do pai, sendo metido: padrão de vida, saúde, educação, resiliência ecológica, bem-estar psicológico, diversidade cultural, uso equilibrado do tempo, boa governança e vitalidade comunitária. No Brasil a FGV (2008) confirmou validade do axioma base do FIB em survey realizada entre jovens brasileiros com idade entre 15 e 29 anos. Os jovens pesquisados apresentaram o nível mais alto de felicidade futura, dentre os jovens dos 132 países pesquisados.

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